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ESTUDO DE CASO

Page history last edited by rosariamoraes@... 15 years, 2 months ago

 

Dados de identificação do sujeito

Nome: Vitória Régia

Idade: 16 anos

Situação familiar:

A menina é filha única e mora sozinha com sua mãe.

No registro de nascimento consta apenas o nome da mãe.

Profissão da mãe: balconista

Escolaridade da mãe: Séries Iniciais do Ensino Fundamental

Condições Socioeconômicas: a mãe declarou sua renda na faixa de até um salário mínimo.

 

História de vida

Antes de iniciar sua vida escolar a criança está em permanente contato com o entorno familiar e o meio social freqüentado pelo grupo. Vygotsky (1998) explica que o aprendizado das crianças começa antes de seu contato com a escola. As situações de aprendizado que elas irão vivenciar na escola estarão sempre se relacionando com a história prévia de cada um. "Dada a importância do ambiente para o desenvolvimento da criança, tanto "normal" quanto "deficiente", no que tange à organização de suas atividades de vida diária e ao processo de estimulação, torna-se fundamental compreender como o ambiente influencia o desenvolvimento das crianças, principalmente daquelas que apresentam algum tipo de deficiência"(SILVA;DESSEN,2001).Para Vygotsky (1998), todas as funções superiores originam-se das relações reais entre os indivíduos. Todas as funções durante o desenvolvimento da criança ocorrem primeiro no nível social e depois no nível individual, assim ocorre primeiro o interpsicológico entre as pessoas e depois o intrapsicológico dentro do ser. “A transformação de um processo interpessoal num processo intrapessoal é o resultado de uma longa série de eventos ocorridos ao longo do desenvolvimento” (p.75). Para compreender o comportamento e as reações de Vitória-Régia na sala de aula torna-se necessário conhecer um pouco mais sobre sua vida em família. A jovem mora sozinha com a mãe e não possui irmãos.

Atualmente a aluna freqüenta a turma de EJA T3 (Educação de Jovens e Adultos). Até 2007, freqüentava o ensino fundamental regular. Na tentativa de proporcionar um outro contexto onde pudesse acompanhar as atividades escolares e vencer algumas de suas tantas limitações, a escola sugeriu que viesse a freqüentar a EJA, mas pouco avançou.

A aluna não demonstra interesse nas atividades escolares, no aprendizado e na execução das tarefas. Dificulta a aproximação da professora a ela, apresenta, inclusive, respostas em tom hostil. Porta-se de maneira infantil ao perceber que estas suas atitudes estão sendo notadas, mostra-se ofendida. Tem brincadeiras e atitudes bem infantis em plena aula, tais como encher balões para brincar sobre a mesa.

 Não faz as atividades de sala de aula, mas ao ser solicitada para participar, está sempre fazendo exercícios e ali fica a aula toda em faz de conta que trabalha.

Gosta de ler e possui uma leitura razoável, mas resiste a qualquer inovação, ficando sempre com aquilo que lhe agrada e não procura integrar-se com os colegas e interagir no meio escolar.

A aluna mora com a mãe e tem atitudes infantis na sala de aula. Na maioria das vezes comporta-se como uma criança. Sua relação com os colegas é difícil, isola-se, é retraída, não faz trabalhos em grupo e não gosto de tumulto. Esta sempre sozinha.

Sua letra é diferente, escreve sem deixar espaço entre as palavras, à letra é desenhada, diferente das outras, e quando questionada, fala que sua letra é egípcia. Tem orgulho da letra e não quer mudar, mesmo sabendo que para nós é ilegível. Na matemática tem raciocínio lento, não sabe as quatro operações. Na leitura consegue expressar-se, mas tem dificuldade em interpretar o enunciado.

Observa-se por parte da mãe uma falta de interesse, um comodismo e uma aceitação a esta situação. Em encontro com os professores afirmou que a família do pai tem características semelhantes à filha e que poucos se alfabetizaram. Relata que a filha é lenta em casa, realizando as tarefas em casa com dificuldade e lentidão.

Conversei com uma ex- professora da Vitória Régia, o depoimento foi o seguinte:

“Ela foi minha aluna na EJA. Só fazia os trabalhos dirigidos e quando orientava ao lado dela e trabalhos de interpretação não realizava. A mãe a considera normal como se fosse um problema de família, atribui as dificuldades da filha a semelhanças com a família do pai da menina. Quando a Vitória Régia era menor e ingressou na escola rodou várias vezes na primeira série e a mãe se desentendeu com sua professora e optou pela transferência dela para outra escola até a 4ª série. Retornou para nossa escola na 5ª série onde reprovou e no ano seguinte foi para a EJA. Acredito que nunca tenha feito avaliação neurológica” (PROFESSORA A).

Conversei com a professora responsável pelo SOE na escola e a conversa não foi diferente das demais, ela relatou que: “a mãe sabe das dificuldades da menina desde a  1° série, pois ela repetiu a 1° série três vezes e quando a escola encaminhou para o psicólogo para fazer uma avaliação à mãe não aceitou o fato e a transferiu para outra escola. Lá ela passou de ano e voltou para a nossa escola na quinta série, porém semi-alfabetizada, repetiu três anos na 5° série... A escola tornou a dar encaminhamento para um neurologista e desta vez a aluna fez um tratamento com medicação por pouco tempo, pois a mãe alegava não ter condições de arcar com a medicação e as passagens para o médico. Nesta época já estava aceitando as dificuldades de Vitória Régia - então procurou estudar a noite para levar a filha para a EJA, pois ali poderia ter um atendimento mais individualizado e com colegas da mesma faixa etária. A mãe é uma pessoa muito limitada e também parece ter dificuldades de entender e compreender os fatos. No ano passado foi encaminhada para um geneticista, mas como só conseguiu consulta no fim do ano terá neste ano (2009) que começar o processo todo novamente”.

Observando a aluna pude perceber que não possui amigos na escola, não conversa com ninguém, até na hora do intervalo fica sozinha na sala de aula ou em um cantinho no saguão. Outro fato interessante é que V. Régia fica aflita quando dá o sinal para retorno as aulas, se eventualmente a professora demora um pouco, ela começa a caminhar de um lado para outro e pergunta se já pode ir embora. Quanto aos professores (as) percebi que evitam questionar suas atitudes em sala de aula. Na semana passada, conversei com a professora de matemática e ela disse que as colegas da V. Régia cobraram dela uma atitude, pois a menina não realiza os cálculos. A professora disse que não sente-se a vontade para insistir com a aluna que faça os exercícios. Quanto ao encaminhamento a professora do SOE está aguardando a mãe comparecer na escola para conversar e dar continuidade ao tratamento. A mãe por sua vez diz não ter condições econômicas e que a filha é "assim mesmo"! Observo uma aceitação a esta condição da filha...

Nesta semana conversei com os professores e professoras da EJA e fui informada que a aluna não tem comparecido as aulas. Fiquei decepcionada, pois dentro da escola, se há um espaço de diálogo e de uma proposta mais próxima aos estudantes é na EJA. Mas todas estas tentativas não foram suficientes para evitar a desistência de Vitória-régia. E não há muito que possamos fazer, pois a mãe já havia dito em outros momentos que quando completasse 18 anos a jovem não iria mais freqüentar a escola. A jovem ainda não atingiu a maioridade, mas a mãe diz que não consegue mais trazê-la para escola, pois ela não gosta de estudar e não demonstra nenhum interesse nas diferentes propostas de atividades. Observo que as professoras e professores oferecem diferentes oportunidades de envolvimento, mas a aluna continua isolada e desinteressada. Na EJA temos as totalidades 1 e 2 que correspondem as Séries Iniciais e T3 e 4 (juntas na mesma sala), referentes a 5ª e 6ª séries, T 5, 7ª e T6, 8ª série. Para as três totalidades das Séries Finais do Ensino Fundamental temos quatro professores responsáveis pelas áreas de conhecimento em blocos, ou seja, comunicação e expressão, ciências naturais... Assim, os professores e professoras planejam atividades e realizam projetos em conjunto (Interdisciplinariedade). Assim. alunos e alunas que possuem uma história de repetências e dificuldades de aprendizagem no ensino regular parecem "evoluir" e acompanhar os colegas nesta modalidade de Ensino. Mas este comportamento não é observado em Vitória-Régia, que continua agindo da mesma forma , mesmo com atividades coletivas e diferenciadas. 

Quanto as questões referentes ao tratamento médico, sei que a mãe não tem condições financeiras de pagar atendimento, a escola também não possui nenhum encaminhamento, pelo Posto de saúde de Itapuã é necessário passar por uma triagem. E a mãe nunca levou a filha, quanto ao geneticista é um contato da professora do SOE com um serviço da UFRGS, mas precisa iniciar todo o processo, pois a mãe não deu continuidade quando foi encaminhada. No dia 25 de junho decidi ficar na escola para o turno da noite, com a intenção de conversar com os colegas da EJA, para minha surpresa e felicidade encontrei Vitória-régia. Ela estava no saguão na hora do intervalo para o lanche conversandocom colegas da EJA. Eram quatro pessoas, todas do sexo feminino e mais velhas do que ela, estavam lanchando juntas e conversavam animadamente. Aproveitei a oportunidade e puxei conversa com o grupo, depois perguntei a aluna por que estava faltando às aulas e ela respondeu que esteve muito doente e agora havia retornado.

Ontem, dia 30 de junho, conversei com VR e perguntei sobre as aulas, ela parecia muito feliz, me deu um forte abraço e disse que não me preocupasse que ela não iria desistir este ano.Faltou, pois estava doente e sua mãe já tinha conversado com a professora do SOE, mas esta informação não foi confirmada pela colega. Mas adorei receber aquele abraço!

 

AULA 7 – Avaliação

"Nesse sentido, a avaliação mediadora é aquela construída na interação, no diálogo entre professores e alunos transformando-os em participantes dos processos avaliativos e, portanto, parceiros na estruturação do olhar acerca da construção do conhecimento. É na medida em que o professor interage com seus alunos e busca compreender como eles estão construindo suas lógicas de pensamento, que ele vai produzindo sua capacidade de mediar situações de aprendizagem, tornando-se aprendiz dos processos de desenvolvimento de seus alunos. Dessa forma ele vai produzindo o conhecimento sobre o conhecimento" (Christofari, 2006).

Com relação à avaliação realizada na EJA, acredito que esteja bem próxima as idéias trazidas no texto. Mas a história de V. Régia começou no Ensino regular, onde foi solicitado um acompanhamento psicológico para a aluna. Com a negação da mãe as dificuldades de aprendizagem e relacionamento da filha, a opção foi pela transferência. Na outra escola a menina cursou as quatro séries iniciais somente freqüentando as aulas, não era estimulada e seus trabalhos não eram avaliados. Assim a escola municipal do município com poucos alunos, resolveu o problema da mãe, pois não fazia exigências quanto ao diagnóstico e tratamento de VR. Assim, o tempo foi passando e atualmente pela idade e histórico de repetência na 5ª série em nossa escola, a jovem encontra-se na EJA. As contradições deste caso com as leituras realizadas consistem na forma encontrada pela escola municipal de tratar o caso de VR. Ou seja, a opção de aceitá-la como aluna, mas não proporcionar sua interação com os colegas. VR simplesmente estudou quatro anos sem fazer parte das turmas, sua presença era aceita, porém nunca foi estilada a aprender e conviver com professores e colegas. Sua decisão de ficar isolada era aceita e sua vontade de realizar ou não as atividades respeitada, a política do “tanto faz”...

Atualmente a avaliação de VR é realizada através de parecer descritivo e sua produção individual em sala de aula e participação nos projetos realizados em cada totalidade. A cada período de avaliação de aproximadamente quatro meses  os professores e professoras da EJA realizam o Conselho de Classe onde os alunos e alunas têm a possibilidade de avançarem de totalidade mediante a avaliação qualitativa de cada professor. Acredito que com relação à VR esta avaliação qualitativa da EJA seja mais adequada, pois a avaliação dos estudantes do Ensino Regular é quantitativa. E na 5ª série as turmas possuem 35 alunos inquietos e barulhentos, com uma média de idade entre 11 e 12 anos, o que faria Vitória-Régia sentir-se deslocada e desmotivada.

Com relação ao desenvolvimento deste Estudo de Caso é necessário destacar sua validade para compreensão dos conceitos trabalhados na Interdisciplina e a aplicação destes conhecimentos. Através deste estudo percebi o quanto alunos e alunas como VR “habitam” nossas salas de aula quase que anônimos, é uma sensação de culpa... Com relação ao texto de Pistóia: “A rede de Interações” é possível destacar inúmeras idéias que contribuem diretamente com este estudo. A relação entre Educador e Educando é fundamental, a aprendizagem se dá através desta “comunhão” como diria Paulo Freire. Assim, a atitude de deixar V.R. fazer suas atividades sozinha, sem questionar ou tentar motiva-la para uma construção coletiva é uma atitude de acomodação. Para Pistóia: “A nossa história é a história das nossas interações” (p.7). Nesta concepção dialética, para que ocorra Aprendizagem precisamos de um espaço de convivência desejável onde cada aluno perceba que é possível aprender e ensinar.                                        

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Comments (6)

Simone Ramminger said

at 10:45 pm on Jun 3, 2009

Rosária vejo que conseguiste escolher e registrar alguns dados sobre o sujeito do teu estudo de caso, inclusive as informações solicitadas na atividade. Portanto, fizeste a postagem da atividade da unidade 4. Sabes com quem a menina mora? Ela tem alguma deficiência ou outra dificuldade além das dificuldades de aprendizagem e atitudes infantis? Esses comportamentos são sempre assim ou apenas em alguns momentos? Como é a relação dela com os colegas?
Assim que fores descobrindo mais informações podes ir acrescentando aqui.
Um abraço, Simone - Tutora sede EPNE

maurentezzari@... said

at 4:27 pm on Jun 9, 2009

Rosária, a Vitória Régia não tem irmãos ou irmãs? Se forem propostas atividades de que gosta, ela as realiza?Há quanto tempo ela está na EJA? Não entendi por que ela terá que recomeçar o processo de encaminhamento para o geneticista. Ela não se aproxima de ninguém na escola? Não tem amigos fora da escola?Essas perguntas têm o objetivo de auxiliar na busca por informações para enriqiecer ainda mais o dossiê. Abçs, Mauren

rosariamoraes@... said

at 9:42 pm on Jun 9, 2009

Professora Mauren, posso adiantar que a aluna não possui amigos na escola, quanto aos professores (as) percebi que evitam questionar suas atitudes em sala de aula. Na semana passada, conversei com a professora de matemática e ela disse que as colegas da V. Régia cobraram dela uma atitude, pois a menina não realiza os cálculos. A professora disse que não sente-se a vontade para insistir com a aluna que faça os exercícios. Quanto ao encaminhamento a professora do SOE está aguardando a mãe comparecer na escola para conversar e dar continuidade ao tratamento. A mãe por sua vez diz não ter condições econômicas e que a filha é "assim mesmo"! Observo uma aceitação a esta condição da filha... Por enquanto é isto, preciso conversar com ela sobre os irmãos e amizades fora da escola. Um abraço, Rosária.

maurentezzari@... said

at 9:58 pm on Jun 22, 2009

Olá Rosária, essa resposta que tu deste deve ser incorporada ao teu texto do estudo de caso, pois vai enriquecendo o mesmo. Eu li no fórum que a aluna está faltando à noite e que é possível que ela tenha abandonado a escola. Mesmo assim, tu continuas o estudo de caso sobre ela, pois agora não há tempo para escolher outro aluno. A própria situação do abandono do estudo é um aspecto muito importante a ser analisado no dossiê. Podes continuar a elaboração do teu estudo, conforme as tarefas solicitadas nas unidades. Abraços, Mauren

Simone Ramminger said

at 8:25 pm on Jul 1, 2009

Rosária apresentas no teu relato informações sobre o relacionamento da menina com os colegas e professores, sobre as suas dificuldades de aprendizagem, tentativas de encaminhamentos e a resistência da mãe em procurar ajuda para a menina. Sabes como é sua rotina fora da escola? Qual é a história dela antes de ingressar na escola? Referes: "Observo que as professoras e professores oferecem diferentes oportunidades de envolvimento". Podes explicar melhor essa frase?
No texto "Deficiência Mental e Família: Implicações para o Desenvolvimento da Criança", Silva e Dessen falam sobre a importância do ambiente e da cultura para o desenvolvimento da criança: " A gama de interações e relações desenvolvidas entre os membros familiares mostra que o desenvolvimento do indivíduo não pode ser isolado do desenvolvimento da família (Dessen & Lewis, 1998)". Conseguiste ler? Vale a pena.
Qualquer dúvida, faça contato.
Um abraço, Simone

Simone Ramminger said

at 12:58 am on Jul 5, 2009

Rosária observei que acrescentaste mais informações ao teu texto e realizaste a atividade da unidade 7.
No texto "A rede de interações" Pistóia comenta que "o ser humano é o resultado de suas interações e a vida é a busca incessante por novos conhecimentos. Estes novos conhecimentos, de forma nenhuma, representam um investimento em vão. Eles são a efetivação do que se pretende, em termos de proposta educativa para os alunos em situação de desvantagem. São estes que constituem-se no maior desafio a ser enfrentado, pois representam a mudança radical no atual panorama educacional. Um dado extremamente relevante é que a transformação proposta pela educação inclusiva está a desacomodar todos os sujeitos envolvidos nas relações escolares, pois não são apenas os alunos em situação de desvantagem que precisam “estar inseridos”, são todos os sujeitos da prática educativa. Todos aqueles que estarão envolvidos nas transformações propostas, no âmbito educativo, buscando incessantemente o conhecimento." Que outros pontos te chamam a atenção nesse texto e que podes relacionar com a tua prática?
Podes desenvolver um pouco mais as conclusões do teu estudo de caso e fazer mais algumas relações com os materiais lidos e vistos ao longo do semestre. Ok?
Um abraço, Simone - tutora sede EPNE

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